sexta-feira, 20 de junho de 2008

Gatinhos Abandonados - por Maria de Lourdes

Data: Quarta-feira, 27 de Junho de 2007, 11:08

GATINHOS ABANDONADOS

Todas as mulheres têm histórias pessoais, cheias de sonho, esperanças, segredos, lágrimas. Histórias incrustadas na alma que se refletem nos olhos.

Que sonhos estariam escondidos por trás daquele olhar azul cristalino? Que esperanças estariam mergulhadas naquele oceano? Segredos? Não aparentavam ter. Ou talvez tivesse e também estariam escondidos naquele lago azul. Desde a primeira vez que a vi, seu olhar me comoveu. Seu sorriso completava o semblante simpático e bondoso. Seu tamanho pequeno era acobertado por aquele sorriso enorme. Seu coração batia com o auxilio de um marca-passos, mas o amor que o preenchia extravasava em seu rosto.

Talvez tenha sido por isso que seu coração precisou de ajuda. Amor demais. Ela amava aqueles gatos (amava também os netos). Amava de uma forma tão intensa que numa época em que vários deles estavam doentes me confessou chorando que a dor que sentia era tão grande em vê-los sofrer que chegara a pensar em comprar veneno e tomar junto com eles.
Alguém pode imaginar isso? Sentir-se impotente diante do sofrimento de tal forma que para acabar com ele é capaz de atitude tão extrema?

Assim era a dona Waleska. Tinha um amor profundo por seus gatos, e por todos aqueles que eram abandonados em seu portão. Muitos deles abandonados por pessoas que jamais voltavam para saber sequer se precisavam de alguma ajuda. E ela, cheia de carinho, os fitava com um olhar profundamente dócil e amoroso, os acolhia, afagava e tornavam-se da família. Havia também aqueles abandonados perto do Grenal que ela vinha alimentar. E parte de sua aposentadoria era gasta com fígado, porque segundo ela - eles gostam tanto de uma comidinha! - mesmo com recomendações de não fazê-lo, ela insistia porque eles comiam melhor.

Antes de conhecê-la pessoalmente, o que ouvia a seu respeito era: gatinho? Leva na aleska. Assim mesmo, minúsculo. A imagem que eu fazia era a de uma mulher jovem, saudável, com recursos financeiros para sustentar tantos quantos lhe fossem enviados. Qual não foi minha surpresa quando um dia chegou para mim pedindo ajuda, aquela senhora pequenina, de olhar profundamente azul e sorriso simpático. Claro que era uma fortaleza, como diz sua filha - por mais que me esforce nunca vou conseguir ter a força e disposição que ela tinha - mas tão frágil, de coração tão fraco.

Eu gostaria de poder negociar com Deus. Não sei se teria essa chance, mas caso a tivesse pediria a ele que não levasse tão cedo as pessoas como a dona Waleska. Não
sei o que poderia oferecer em troca, mas apelaria, usaria de todos os argumentos para convencê-lo de que nossos animais precisam que pessoas como ela não nos deixe tão
cedo.

Em um mês duas pessoas que nos procuraram pedindo ajuda com seus gatos nos abandonaram. É o prenúncio da morte que fazem com que peçam socorro? É o medo de não ter quem olhe por seus animais que os trazem até nós?

Não tenho respostas, creio que jamais as terei. Mas tenho uma certeza - a de que nosso amor e respeito pelos animais nos dão a oportunidade de termos em nossas vidas pessoas como a Waleska, a Maria. Essas pequenas e frágeis criaturas que nos deixam na memória a imagem de mulheres que dedicaram a vida para proteger e amar os animais, mulheres que não pediram ajuda em nenhum momento, a não ser naquele em que a tênue linha que separa a vida da morte estava para romper.

Obrigada Waleska, obrigada Maria, por termos tido o privilégio de convivermos com pessoas com tanto amor pelos animais. Que suas vidas fiquem nas nossas memórias,
que nossas esperanças sejam renovadas em todos os momentos em que nos sentirmos fracas, pelo exemplo que vocês nos deixaram.

Gatinhos Abandonados? Não procurem mais a Waleska.

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